segunda-feira, 29 de agosto de 2016

#45

Que os Estados Unidos são o pais que mais cria facilidades aos seus habitantes e estes até abusam disso já é um fato comprovado.

Mas quando voce acha que já viu de tudo nessa vida, sempre aparece uma real possibilidade de voce se surpreender mais um pouco, claro.

E lá fui eu fazer as minhas entregas.

Vou indo, sempre seguindo o tal GPS e me deparo com um condomínio com portaria.
Paro o carro, abro o vidro, falo o endereço da entrega, apresento o documento com foto e aguardo o oficial ligar e receber a autorização pra me deixar entrar.

Cancela liberada, lá vou eu em busca do endereço. Direita, esquerda, vira aqui, vira ali.
Acho a casa, desço do carro com, o vaso e a prancheta, toco a campainha, espero abrir a porta, peço a assinatura, entrego o arranjo, volto pro carro, ponho o próximo endereço no GPS e vou saindo devagar.

Até andar uns poucos metros e reparar a porta da garagem de uma casa se abrindo.
E desta garagem sair um cidadão dentro de um carrinho de golfe.
E este cidadão indo até a caixa de correio na calçada da casa dele verificar se tem correspondência.

Francamente...

#44

Tudo bem, estamos em ferias escolares...

E as mães acham que tudo é valido.

Mas ao chegar pra fazer a entrega (um arranjo com flores de varias cores, bem bonito), tocar a campainha (e ouvir o cachorro latir e umas vozes de crianças, o que indica que tem gente em casa), ouvir a porta ser destrancada e dar de cara com uma senhora de camisola e escovando os dentes (as 11 da manhã) já é abusar bastante da boa vontade humana...

Francamente...

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

#43

Pelo arranjo pude notar que quem mandava estava beem interessado em quem ia receber as flores.
Não li o cartão, mas nem precisava...

Coloco o endereço no GPS e sigo pelo caminho indicado... vira a esquerda, depois a direita e assim vamos até chegar na frente de um grande prédio comercial.

Estaciono o carro, tiro minha prancheta com os dados e o papel para assinatura de quem recebeu e meu celular. Faz algum tempo que venho fotografando as entregas para postar no FB (voce pode entrar na nossa pagina Deerfield Florist e curtir... muito obrigado...).

Entro na recepção e encontro duas mulheres que ao olhar para as flores param de falar (o que me faz concluir que o cidadão realmente mandou bem no arranjo) e me perguntam sorrindo:

- prá quem são as flores?
- são para a Maria (nome ficticio, óbvio...)

Uma delas olha pra dentro de uma sala e grita:

- Maria, tem uma encomenda pra voce aqui na recepção, vem rapido...

Maria aponta pela porta e o queixo cai imediatamente:

-p.p.p.rá mim?!?!

Não acreditando no que via ela pergunta:
- quem mandou?

- por favor veja que tem um cartão acompanhando as flores

Ela abre o cartão e faz uma cara de desapontamento.. e eu fico intrigado...

- mas não tem assinatura...
- desculpe, mas realmente não sei quem mandou as flores
- como nao?
- desculpe, mas eu só entrego as flores
- mas preciso saber quem mandou...

Acho estranho tudo isso mas peço desculpas e vou indo embora quando uma outra moça sai da mesma sala e começa a falar muito rápido comigo. Devo ter feito cara de "ué" porque uma das mulheres disse pra ela que eu não sabia, que só estava fazendo meu trabalho, que as flores eram lindas e me pediu cartões da floricultura.

Fui até o carro pegar mais cartões e voltei a tempo de ser emparedado pela fulaninha querendo saber o nome do gerente, do dono, da policia, sei lá mais de quem.. escrevo o nome do gerente, agradeço a gentileza e vou embora.

Festa estranha com gente esquisita... cantava Legião Urbana....

Cheguei na floricultura e comentei todo o ocorrido com o Ken e já ia fazer uns comentários quando o telefone tocou com a Maria do outro lado da linha pedindo informações. Explica prá lá, explica pra cá e tudo bem.

Passou mais um tempo e toca o telefone novamente:

- oi, sou o Mario (não pergunte que Mario...) e quero saber se voces já entregaram pra Maria.
- sim, as flores já foram entregues
- tem certeza?
- tenho, fui eu quem entregou. E tem uma foto dela com as flores no nosso FB, caso queira olhar e curtir
- mas ela não me ligou pra agradecer...
- talvez seja porque ao invés do seu nome voce pediu pra colocar um logotipo da Mercedes-Benz, pensei eu...


terça-feira, 21 de junho de 2016

#42

Eu achava que já tinha passado naquele endereço antes.

Mas, na dúvida e também pra não perder muito tempo, coloquei os dados no GPS.

Entra a direita, vai em frente, vira pra lá, vira pra cá e cheguei.
Era mesmo o supermercado que eu achava que estava naquele endereço...

Hum.. entrega no supermercado vai ser interessante, pensei.
Como vou fazer pra achar a pessoa?

Estaciono o carro, tiro as flores com o maior cuidado, pego minha prancheta e lá vou eu pra dentro da loja.

Qual não foi a minha surpresa, entro num supermercado com um vaso de flores na mão e não encontrar nenhum funcionário! Ninguém!!

Pra não dizer que não tinha ninguém, achei uma moça no caixa atendendo uma cliente, carrinho lotado de compras.

Pensei que a falta de funcionários pudesse ser um desleixo da empresa, mas a loja me pareceu limpa, arrumada e com produtos novos.

Fui até perto da fila do caixa e fiquei ao lado da mocinha, esperando ela terminar com a cliente.

Mas ela, curiosa que estava, interrompeu o atendimento e perguntou se podia ajudar.

- Claro! Voce conhece essa pessoa? Aonde posso encontrá - la? perguntei mostrando o nome da funcionária no envelope.

Já viu alguém ficar completamente vermelha em menos de 3 segundos? Eu vi...

- É voce?
- Sim...
- E por que voce está tão vermelha?
- Porque estou morrendo de vergonha...

- Senhora, desculpe atrapalhar a fila, mas acho que foi por uma boa causa... tenha um bom dia...

#41

Sempre tem uma primeira vez em tudo...

E eu nunca tinha entrado numa sinagoga antes!

Lá fui eu entregar 4 arranjos numa sinagoga da região. Aliás, bem conhecida.

Toca a campainha, se apresenta, entra, pergunta aonde levar os arranjos, volta até o carro e carrega um de cada vez até a porta principal.

Daí em diante são 2 nas laterais do altar, 1 arranjo perto do lugar mais alto no centro da sala (imagino que seja aonde o rabino lê o livro sagrado) e 1 arranjo pequeno para a sala do rabino.

Conheço um funcionário bastante simpático e eloquente que se dispõe a levar o arranjo até a sala onde o rabino esta estudando. Ele bate na porta, espera a autorização e entra com o vaso na mão.

Depois que ele entra ouço a explicação sobre o vaso de flores, presente da comunidade judaica juvenil da cidade.

O Valter sai da sala e me acompanha até a porta de entrada, sempre falando muito. Até que escutamos o rabino chamando...

- Olha, gostei muito do vaso com as flores.

- Muito obrigado! Ficamos felizes que nossos arranjos de flores são elogiados.

- São realmente muito bonitos. Mas não tem outro igual? Queria levar um deles pra casa...

quarta-feira, 15 de junho de 2016

#40

Claro que a portaria ligou ora avisar da entrega de flores...

Mas nem isso foi suficiente pra que a dona da casa agilizasse o processo de abrir a porta.
Toco a campainha (que normalmente não funciona) e espero. Nada...

Bato na porta e nada...

Já estou me preparando pra deixar o vaso no chão quando ouço a fechadura da porta se abrindo, lentamente.

- entrega de flores, senhora!
- que lindas!
- cuidado pois o vaso está pesado
- voce pode por favor colocar lá dentro?

Ela se vira e vai andando na minha frente, passos minúsculos, vagarosamente.

- por favor deixe ali em cima do balcão.
- pois não, senhora! A senhora pode, por favor, assinar o recebimento? digo a ela, estendendo a prancheta...
- voce tem troco? pergunta ela com uma nota estendida
- acho que tenho. Quanto a senhora quer?
- hum... tem 2?
- vou até o carro buscar

Ela pega a prancheta, tira os óculos dos olhos, põe na cabeça a começa a passar a mão na folha de papel... acho que ela não enxerga direito, penso eu.

Vou e volto ate o carro, entrego os 2 e ela me devolve a prancheta com uma assinatura no meio da página.

- voce quer levar uns vasos das outras entregas?
- posso levar, senhora.
- ótimo, vem comigo pra pegar... e sai naquele passinho lerdo...

- estão em cima da máquina de lavar. Pegue aquela escada e abra o armário. Pode pegar todos.
- muito obrigado pela gentileza.

Vou indo em direção à porta e pergunto e ela:
- por que a senhora me pediu o troco?
- ah, queria te dar uma gorjeta...
- mas a senhora pos a nota no bolso direito da blusa e não me deu nada...
- não? ela perguntou enfiando a mão no bolso e esfregando os dedos na nota pra sentir o papel.
Desculpe, aqui está. Tenha uma boa tarde...

#39

Normalmente quando entrego flores num velório, que acaba acontecendo quase uma semana depois do fato, sou orientado a deixar as flores, arranjos, coroas e afins numa sala separada, nos fundos do lugar aonde acontecerá a cerimonia.

Entretanto, neste dia, não sei exatamente por que a funcionária me sinaliza a sala aonde já estava o caixão...

Confesso que dei uma parada, meio titubeando, mas como ela foi na minha frente não tive opção a não ser segui - la.

Desviei o mais que pude o olhar para evitar olhar. Nunca tive problemas com enterros, mas não entendi o motivo de olhar pro outro lado.

Coloquei a coroa de flores no lugar que me foi indicado. Ajeitei de acordo com as orientações. Olhei em frente e já estava me virando pra sair quando ela me agradeceu.

Instintivamente me virei para desejar um bom dia quando olhei um caixão branco e pequeno.
Uma linda menininha loira deitada com um aspecto tranquilo, um ar sereno...

Deveria ter a idade da minha filha... ah... foi difícil... bem difícil...

segunda-feira, 23 de maio de 2016

#38

Claro, o apartamento era o mais longe possível da entrada do prédio...
E o vaso era pesado, evidentemente.

Lá fui eu atrás do número 201.

Toco a campainha e espero um pouco, fazendo força pra segurar o vaso, a prancheta, a caneta e equilibrando o celular.

Não acontece nada... bato na porta e ouço uma voz lá de dentro, falando:

- Quem será? Vou ver se é aqui mesmo...

- Bom dia! Entrega de flores!

- Flores?? Mas quem mandou?

- Não sei, senhora. Tem um cartão junto do vaso com a mensagem de quem mandou.

- Ah!!! Já sei... voce é daquela floricultura da cidade, não é?

- Isso mesmo, senhora!

- Aquelas flores que voces me mandaram no Dia das Mães estavam tão lindas que comentei com a minha filha com muito entusiasmo. E agora ela resolveu me mandar flores novamente.

São lindas como as outras, muito obrigado. E nem é Dia das Mães!

#37

Uma parte do trabalho inclui a manutenção do carro, obviamente.

A idéia, então passa a ser inserir um ou outro episódio mais marcante também no que se refere ao carro, esse tão valioso instrumento de trabalho.

Pois lá fui eu para o troca de óleo do carro, agendada na oficina.

Cheguei um pouco antes do horário determinado, esperando com isso ir embora mais cedo. Quase deu certo, dada a quantidade de pessoas sentadas na sala de espera da oficina. Um senhor dos seus 70 e poucos anos usando um boné ainda com a etiqueta, um amigo dele que não largava o celular de jeito nenhum e uma senhora que, soube mais tarde, recém separada.

Eram 4 cadeiras e 4 clientes. Esperando um bom tempo pelos seus carros.

Precavido que fui, levei meu livro e aproveitei para adiantar uma leitura bem interessante sobre como os atletas radicais fazem pra redefinir os limites do possivel. Recomendo...

Junto comigo entraram mais 2 mulheres que foram fazer a inspeção do seguro do carro recém adquirido. Pela conversa e pelo sotaque são, na melhor das hipóteses, russas.

O velhinho, todo animado se intromete na conversa e se voluntaria para ajudar na inspeção, acreditando estar com alguma chance de qualquer coisa. Que preguiça...

Lá pelas tantas, passadas mais de 1 hora e meia o velhinho levanta e pergunta aonde fica o banheiro.

- Na 2a porta a direita, logo depois do balcão.

Ele vai, volta, faz cara de inconformado e atira a sangue - frio:

- Quero fazer uma reclamação... esse deve ser o único banheiro neste País (e já visitei muitos banheiros de oficinas mecanicas) aonde não encontrei aquelas fotos maravilhosas das pin - ups ou posteres da Playboy... nunca mais venho aqui!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

#36

Quase hora do almoço e eu com fome...

Mas ainda tinha que fazer 2 entregas antes de parar pra almoçar.
E lá fui eu, olhando o GPS e procurando o endereço.

Aliás, já descobri que o GPS escolhe o caminho que ele quer, independente de ser o mais rápido ou mais curto ou mais sei lá o que que se pode programar...

Se voce vai em frente e deveria ter ido à esquerda ele não te manda retornar... ele te faz dar uma volta ao mundo... e por que não uso o Waze? porque ele consome muita bateria do meu celular, pobre de mim...

Voltando à entrega, lá vou eu dentro do condomínio sem porteiro, numa rua que circunda o muro e vai até a outra entrada (que deveria ter sido por onde entraria, mais perto e de mais fácil acesso... enfim...) até estacionar na porta da casa.

Era um vaso grande, muito bonito e bem arrumado. Uma fita branca envolvia tudo.

Ponho o vaso no chão e toco a campainha. Ouço um barulho e percebo movimento através do vidro da porta. Espero um pouco e a porta se abre. Era uma senhora mais velha, fico com medo dela não conseguir carregar o vaso.

Me ofereço pra levar o vaso pra dentro mas ela agradece e recusa gentilmente.

Assina o papel do recebimento e pergunta quem enviou.
Acontece que não sei, mas mostro o cartão que acompanha o vaso pendurado numa haste plástica aonde ela pode ler a mensagem.

Entro no carro e quando ia colocar o próximo endereço no GPS me dou conta que ela ainda está em pé na porta da casa abaixada e pegando o cartão.

Ela abre o papel, lê a mensagem, põe a mão no peito aparentando felicidade e depois leva as mãos até a boca em sinal de surpresa. Ponho o endereço e quando levanto a cabeça para olhar o movimento percebo que ela ainda está lá... só que agora enxugando as lágrimas de felicidades...

#35

Um dia tranquilo, mesmo com várias entregas.

Acontece que eram todas concentradas. Nada de ficar o dia todo prá fazer 4 ou 5 entregas.
Olho na minha folha de roteiro (isso mesmo, tenho uma folha de roteiro prá otimizar o percurso) e vejo que a 1a entrega é numa área de muitos canais e barcos.

Vou indo, dirigindo e seguindo o GPS, como normalmente faço.

Virar à direita, esquerda, anda um pouco, curva prá lá, curva prá cá, anda 3 quarteirões, entra na rua e finalmente encontro o endereço.

Desço do carro, equilibro o vaso, a prancheta, a chave do carro, o celular e nem me lembro o que mais...

Toco a campainha, bato na porta e ouço o cachorro latindo (bom sinal!).

Espero um pouco e ... nada... mais um pouco e... nada...

Toco novamente a campainha e já começo o processo de avaliação de deixar na porta e ir embora.
Acontece algumas vezes de, mesmo com carro estacionado na porta, não atenderem a campainha.
Deixo na porta e ligo pra avisar que foi feita uma entrega de flores bla bla bla...

Mas ouço um voz feminina atrás de mim, perguntando o que era.
Viro com o arranjo nas mãos e a senhora sorri, feliz.

Peço pra ela assinar o canhotinho de recebimento e vou embora.

Nada de mais nessa entrega se não fossem 2 curiosidades: ela estava de pijama de flanela (e estava quente) e meu grande amigo Antonio Freitas estava o tempo todo assistindo a entrega pelo Skype.

Obrigado pela companhia, meu amigo!

segunda-feira, 25 de abril de 2016

#34

Um condomínio de bom nível, casas amplas e não muito perto umas das outras.
Bastante agua e um campo de golfe imenso.

A portaria liga pra moradora e informa que tem uma entrega de flores no portão.
Recebem a autorização e me deixam ir em frente.

Vou seguindo as orientações do GPS e é claro que a rua fica quase no final do condomínio.
Estaciono o carro, tiro as flores e a minha inseparável prancheta do carro, ando até a porta e toco a campainha.

Ouço passos e já sei que não vou deixar na porta da casa (e também que o piso não é carpete...).

A porta abre e uma mulher dos seus 40 e tantos anos, morena, num vestido meio largado abre a porta.
Pelo cartão sei que são flores de aniversário, mas não vejo um sorriso naquele rosto.

Dou os parabéns, peço a assinatura de recebimento no canhoto, entrego o vaso e ajudo a fechar a porta dado que as mãos dela ficam ocupadas com o vaso pesado.

Olho pra baixo e entendo o possível motivo daquela falta de animo: uma tornozeleira eletronica no calcanhar esquerdo...

Confesso que fico meio sem ação, sem saber o que fazer.
Nunca tinha visto ninguém usando o tal aparato.

Ainda bem que a porta já tinha se fechado...

#33

Um começo de tarde quente, fora dos padrões dessa época do ano.

Vai doer, mas preciso escrever: quis o destino ... rs rs rs
... que a entrega fosse num prédio quase a beira mar. No caso basta atravessar a rua!

O nome de quem recebia as flores não tinha o numero do apartamento.
Tá facil...

Mas já tinha aprendido que em todo prédio tem um lugar para o correio deixar as cartas e em cada buraco consta o nome do proprietário. Tá fácil, de verdade!

Era uma senhora e consegui identificar o sobrenome mesmo com tanta maresia corroendo as placas.
5 apartamentos em cada um dos 2 andares.

Hum, apartamento 4, ali naquela porta, quase no final do corredor, obviamente.

Toco a campainha e espero um pouco. Ninguém responde.
Bato na porta e espero um pouco. Ninguém responde.

Deixo as flores na porta da casa e vou embora pra próxima entrega.

Mais tarde volto pra floricultura e vou ouvir a estória dessa entrega.

O apartamento que eu deixei as flores é do filho da senhora.
Quem mandou as flores foi a filha da senhora, no celular de quem eu deixei a mensagem que as flores haviam sido entregues.

Até aí, sem problemas já que o filho chegou em casa um pouco depois e viu as flores.
Ele precisava urgentemente ir ao banheiro e nem fechou a porta do apartamento.

Quando ele voltou as flores não estavam mais lá.
Ele subiu um lance de escada e foi procurar a mãe, que não estava em casa.

Ao mesmo tempo a filha ligou pra ver se a mãe tinha gostado das flores.
Mas ela não havia recebido ainda...

A filha liga pra floricultura e dá a maior bronca, diz que entregamos errado ou mentimos sobre a entrega... liga pro irmão pra contar a estória e ele diz que viu as flores, que deixou no chão do corredor mas quando saiu do apartamento as flores não estavam mais lá.

A filha liga novamente pra floricultura, dessa vez pra pedir desculpas mas que queria que entregassem novamente, já que a mão não havia recebido.

A mãe chega em casa e o filho sobre pra conversar com ela sobre as flores.
Ficam falando no corredor até que o vizinho abre a porta, olha pra mãe e diz:

- ainda bem que voce chegou... estava chegando em casa e vi flores na porta da casa do seu filho.
Peguei e trouxe pra casa, já que alguém podia passar e roubar essas flores tão bonitas!
- mas como voce não estava em casa resolvi guardar aqui até voce chegar. São lindas!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

#32

Era uma manhã ensolarada, um prédio quase a beira mar.

Estacionei o carro, abri a porta e peguei minhas anotações e o belo vaso.
Entrei pela portaria e um morador olhou pra mim e perguntou se eu ia até o apartamento 17.

Como ele sabia?

"No andar de cima, do outro lado do corredor".
"Muito obrigado".

"Eu sei aonde voce vai..."

Não foi difícil de entender que era o aniversário da moradora quando subi a escada e calculei pela distancia que aquelas outras mulheres na porta de um apartamento de portas abertas estavam comemorando alguma coisa.

Olhares felizes, sorrisos mas apontamentos para dentro do apartamento me fizeram concluir que as flores não era pra nenhuma delas.

E surge a feliz aniversariante, toda arrumada. Feliz!

"Que flores lindas, muito obrigado".

Saio andando em direção ao carro e vejo lá de cima uma pessoa abaixada ao lado da porta do carro.

Alguém querendo roubar o carro?

Acelero o passo e vou pensando na estratégia de abordagem.
Pela posição da pessoa decido que vou dar a volta por trás do carro e tentar surpreender o ladrão.

Pulo e agarro? Pego pelo pescoço? Mata leão?

Passo pelo morador e ainda consigo desejar um bom dia.
Já sinto a adrenalina circulando e a frequencia cardíaca aumentando rapidamente.

Dou a volta por trás do carro e quando me viro vejo uma senhorinha se levantando com um copo na mão, recém tirado do chão.

"Essas pessoas não conseguem nem jogar um copo no lixo? Precisam sujar as ruas?"

A senhorinha nem sabe que acabou de escapar de uma voadora...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

#31

Como já andei escrevendo, as vezes ganho gorjeta.

Mas só as vezes...

Outras vezes, como já está se tornando mais corriqueiro, ganho muito mais que uma gorjeta...

Foi no domingo passado, dia de entregas especiais.

Apesar do GPS ter me levado pro lado errado da rua, consigo achar o endereço certo, casa certa.

Desço do carro, pego as flores e me dirigo pra porta da casa.
Toco a campainha e espero um pouco.

Ouço o barulho da maçaneta girando, a porta abrindo e lá dentro vozes de crianças brincando.

A moça que abriu a porta olhou as flores e disse, sorrindo:

"Que flores lindas, são pra minha avó!"

E me deu um sorriso lindo, maravilhoso...

Fazia tempo que não recebia um sorriso desses, tão sincero e delicado.

Melhor que gorjeta

#30

A entrega era num hospital.

Como sei que não vou precisar do celular pra tentar falar com ninguém, deixo no carro e entro no prédio.

Localizo o apartamento e a funcionária me acompanha até o quarto.
O cidadão tinha operado o joelho recentemente e tinham várias pessoas no quarto.

Um parente nos recebe e quando falo que é uma entrega de flores ele olha pra uma mulher e fica esperando ela se mexer e vir pegar o vaso pesado. Um folgado, no mínimo... rs rs

Pelo menos ele se dignou a assinar o recebimento.

De volta ao elevador, entro junto com um funcionário da limpeza.
Aperto o botão e enquanto o elevador desce ouço o sinal de alarme no celular dele e da moça do hospital que me acompanhou.

"Alarme de furacão?" pergunto eu.
"Não, aviso de criança sequestrada".
"Ah, tá"...

No que ele prontamente respondeu:
"Um aviso de criança sequestrada e voce reage dessa maneira?"

O elevador abre a porta e eu saio andando na direção do carro.

Agradeço à moça e vou embora.

Entro no carro e me dou conta do comentário do funcionário e da minha indiferença.
A que ponto eu cheguei? Não me impressionar com uma criança sequestrada?

Isso não deveria ser a minha reação.
Definitvamente...

#29

Ainda no capítulo sobre "anjos da guarda", fui fazer uma entrega num lugar longe.

Vizinhança aprazível, lugar bacana, ruas e braços de mar com casas com garagem pra carros na frente e pra barcos nos fundos da casa.

Mas longe, definitivamente.

Olho os números dos prédios tentando achar o destino daquele grande e pesado vaso.
O roteiro mostra apartamento 403, ou seja, no 3o andar do prédio (o térreo já é o 1o andar...).

Ando mais um pouco e vejo o prédio, vaga pra visitante.

Desço do carro, carrego meus papéis e pego o vaso.

Ando até a porta de entrada e dou de cara com um interfone com os números dos apartamentos com seus respectivo códigos. Nada de porteiro...

Ligo pro código indicado no diretório de telefones e começa a tocar... ninguém atende...
Procuro o código do escritório e ligo, numa tentativa de convencer alguém a abrir a porta e me autorizar a deixar o vaso na porta do apartamento.

Caixa postal e uma mensagem dizendo que o horário de atendimento é até as 5 da tarde (e são 4:50...).

Começo a ligar novamente pro apartamento, agora usando o celular e o número que tem no pedido, acreditando que deve ser o celular da pessoa, ela vai atender e me passar o código de acesso do prédio.

Caixa postal, mesmo recado...

Lá dentro vejo um cara mais velho, cabelos e barba brancos olhando pra mim. através da porta de vidro. Ele caminha na minha direção, olha pra mim e abre a porta. Em silencio, sem falar nada.

Agradeço a gentileza e vejo uma leve alteração no rosto dele.

O elevador chega, ele entra com a bicicleta, pergunta que andar eu vou e não fala nada.
Eu desço na 4o andar, ele vai pro 6o.

E quem disse que anjo da guarda não ajuda? Se fui eu, retiro... mas sempre soube da existencia deles.


#28

Todos os dias acabo entendendo alguma coisa!

Inclusive aquelas coisas que eu já sabia, mas talvez não estivesse entendendo.
Ou não querendo olhar...

Claro...

Parado no sinal olho o carro da frente com um adesivo colado: Deus está no controle!
Até aí nenhuma dúvida, pensei eu comigo mesmo.

Essa estória de dirigir o dia todo as vezes me faz falar sozinho, as vezes me deixa pensando muito, as vezes me dá vontade de ficar em silencio comigo mesmo. Outra (poucas) vezes eu canto. Um verdadeiro desastre rs rs

E lá ia eu fazer as últimas 2 entregas daquele roteiro com uma parada num fornecedor entre elas.

Dirigia tranquilamente pela rua, não pensando em nada, nem cantando.
Quando o cidadão na faixa da esquerda joga o carro em cima do meu, me fazendo freiar bruscamente.

Resultado? a caixa com os 2 vasos com as flores tombou e com ele a agua que estava nos vasos.
Parei o carro e constatei: vasos com flores SEM agua!

Como eu ia fazer pra entregar esses vasos?

No caso do segundo vaso era fácil, considerando que ia parar no fornecedor e poderia pedir agua pra ele. Mas e o primeiro vaso?

Paro num posto, num boteco, num lugar qualquer e resolvo essa parada.
Sigo o GPS e logo dou de cara com o endereço.

Como resolver isso?

Um prédio de escritório imenso, um cara na recepção muito atencioso:

"Esse endereço é no 2o andar, use aquele elevador".
"Voces tem banheiro aqui embaixo? Preciso completar a agua do vaso".
"Nossa, não tem nenhuma água... claro, ali naquela porta".

E quem foi que disse que anjo da guarda não existe?

sábado, 6 de fevereiro de 2016

#27

A folha das entregas me indica que as flores serão entregues numa agencia de propaganda.

A mocinha deve estar fazendo aniversário, imagino.
Ou então, sei lá, o cara deve estar no estágio inicial do processo de conquista.

Eu não mandaria 12 rosas vermelhas, mas tem quem goste.

Por que não?
Porque se a mocinha trabalha numa agencia de propaganda ela deve ter uma cabeça com outro foco, com uma abordagem das coisas diferente.

E não consigo me lembrar de nada mais tradicional que rosas vermelhas.

Mas, enfim , vamos à entrega.

Estaciono o carro, abro a porta traseira, tiro o vaso, atravesso a rua e entro no prédio.
3o andar.

Entro na agencia, muitos premios nas prateleiras.

Me atende um cara, um publicitário, obviamente.
Quem conhece um publicitário me entende, não precisa explicar...

"Um momento, já vou chamar".

Ouço ela avisando a mocinha sobre a entrega e ouço os passos no corredor.

Uma mocinha com cara de publicitária aparece, um sorriso bem feliz no rosto, sincero.
Profundo.

"Pode assinar antes, por favor? O vaso é pesado e vai ficar difícil assinar depois".

"Claro, com certeza".

E justificou a fama dos publicitários ao não assinar  a folha das entregas.
Deu um autógrafo... imenso...

#26

Era um prédio de um condomínio que costumo entregar flores.

Um condomínio imenso, com muuuitos prédios. Gigante.

Era uma entrega normal, no meio de várias.

Toco a campainha e espero, como sempre.
Olho pelo vidro e vejo um tablet carregando e imagino que tenha alguém em casa.

E nada...

Toco a campainha novamente, acompanhada da habitual batida na porta.

"Estou indo"...

Vejo pela janela uma mulher loira, seus 40 e tantos, um pouco fora dos padrões normais de peso, se é que voce me entende... deve ter sido bonita um dia, claro... na época que o peso era adequado à altura...

Ela abre a porta e vejo que esta enrolada numa toalha branca, cabelo molhado.
Peço desculpas, claro.

Ela quase toma o vaso da minha mão e já diz:
"Já tinha ligado pra saber se já vinha entregar.
Preciso sair e se não chegasse ia ligar pra cancelar".

"A senhora pode assinar, por favor?"

"Claro".

E se vira pra por o vaso no chão, sem se dar conta que estava de toalha.

Só me restou olhar pro outro lado...

Afeee... que preguiça...

#25

As minhas meninas (lembra, 85+) te andado implacáveis!

A cada dia mais arrumadas, mais penteadas e mais perfumadas.
E também dando gorjetas.

Ufa!!!

Ainda bem que ainda dão gorjeta pro entregador de flores.

Elas é que não sabem, mas aqueles sorrisos são a maior gorjeta que eu posso receber.

Algumas olham, sorriem, ficam felizes e me mandam esperar enquanto vão buscar a gorjeta.
Outras já me esperam com a mãozinha no bolso da calça ou da camisola com o dinheiro enroladinho na mão.

Umas fofas... adoro...

#24

Entro  num condominio sem porteiro. Nem virtual nem físico.
Fazia tempo... ufa...

São muitas ruas até chegar no destino. Muitas curvas, esquerda, direita, vira, vira... cheguei.

A casa parece bem bacana, grande, espaçosa.

Toco a campainha uma vez, espero um pouco. Nada...
Toco a campainha outra vez e bato na porta ao mesmo tempo, só pra ter certeza que, se tiver alguém em casa, vai me ouvir.

Ouço o cachorro latindo.

Espero um pouquinho e ouço a maçaneta girando, a porta abrindo.

Uma moça dos seus 30 e poucos anos, roupa de ginástica, cabelo um pouco despenteado, bochechas vermelhas.

Hum.. será que atrapalhei alguma coisa interessante?

Enquanto ela assina a folha de recebimento olho pra dentro da sala com o canto dos olhos...
Lá dentro vejo o motivo daquela suadeira toda, na minha cara...

Uma TV de suas 60 ou mais polegadas pausada numa aula de fitness, um desses programas pra fazer ginástica.

Agradeço a assinatura, desejo um bom dia e saio pensando comigo mesmo:
por que não vai correr na rua? malhar no parque? sei lá...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

#23

O endereço era claro, direto.

Mas o prédio, depois de muito procurar, foi encontrado atras de umas lojas, virado de costas pra rua original. Deu trabalho, mas achei.

Pra entrar no condomínio tinha um porteiro eletronico e comecei a apertar os botões do diretório até chegar no sobrenome da cliente. O painel informa o código para ligar e aperto as teclas. Toca 1, 2, 3, 4, 5 vezes até que atende uma voz feminina.

"Sra, tenho uma entrega de flores para Maricota Menezes".

"Não tem ninguem com esse nome aqui". E desliga o telefone na minha cara.

Ligo novamente e toca outras várias vezes até que a mulher atende de novo.
"Desculpe senhora, mas liguei na loja pra confirmar o endereço e o telefone.
A sra tem certeza de que a Maricota Menezes não mora ai?"

"Olha, me chamo Marilda Menezes". E novamente bate o telefone na minha cara.
Pessoa mais mal educada...

Entro no carro, ligo no telefone indicado na planilha e cai na caixa postal.
Ligo o carro, manobro e vou embora.

Ando alguns quarteirões e resolvo voltar. Vou entregar essas flores hoje senão amanhã tenho que voltar... já estou aqui perto, vou dar um jeito, descobrir uma maneira de entrar no condominio.

Paro o carro em frente ao prédio (só que do lado de fora), fico olhando alguns carros entrarem e percebo que não dá tempo de aproveitar uma "carona" de algum carro entrando. Talvez na hora que um carro entrar eu consiga ir a pé ao lado do carro.. dá tempo...

Desço do carro, pego o arranjo e vou andando pela calçada em direção ao portão.
Vou acompanhando a grade e percebo que tem um portão para pedestres.

Posso pular a grade, em último caso...

Chego perto do portão e percebo que está sem o miolo da fechadura. Empurro e ele se abre.

Ufa! Vai ser mais fácil do que imaginava...

Vou andando em direção ao prédio de 2 andares, contando o pavimento da rua. Mas o endereço indica 312, ou seja, no 3o andar. Como pode ser?

Chego na frente do apartamento que acredito112 e fico imaginando aonde seria o 312, já que só tem mais um andar. Por que acredito e não tenho certeza? Porque todos os números dos apartamentos estão cobertos com uma fita adesiva, esperando pela tinta que deve chegar no dia seguinte. Fala sério...

Olho ao redor e vejo uma moradora, sentada na porta do apartamento.

Ela chama o marido, que me explica que o prédio tem uma outra série de apartamentos cuja entrada fica na rua de trás. Vai entender...

Dou a volta no prédio, carregando aquele lindo (e grande) vaso de flores, um arranjo bem colorido.
Vejo uma porta com o número descoberto: 215!  E agora, José?

Volto para a rua da frente, olho pros apartamentos e resolvo subir uma escada que dá acesso aos apartamentos de cima. Acho o 301, depois de arrancar a fita adesiva, olhar e colocar de volta. Qual teria sido a lógica?

Desço a escada, vou andando até a frente do apartamento 312 e subo as escadas. Toco a campainha, espero um pouco e bato na porta. Espero mais um pouco, bato de novo na porta e nada...

Ligo no número indicado na planilha e ... caixa postal...

"Sra, boa tarde. Só para informar que tenho uma entrega de flores e deixei na porta da sua casa. Tenha uma boa tarde".

Mas entreguei as flores, não tive que voltar no dia seguinte.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

#22

Dessa vez era pra entregar uma cesta de frutas.

"Mas, cesta de frutas? A pessoa morreu..."

"Mas foi o que pediram".

Lá vou eu com algumas entregas antes e outras depois da tal cesta de frutas.

Chego no endereço, meio ressabiado com a situação e me vejo em frente de um condomínio com 3 prédios. Isso mesmo, 3 prédios no mesmo endereço.

E voce pensou certo: nenhuma indicação do prédio, muito menos do apartamento.

Hum... como vou fazer?

Vejo uma moradora andando no corredor, desço do carro com a prancheta, digo que preciso fazer uma entrega e pergunto se ela conhece a moradora.

"Não tenho certeza, mas acho que a minha vizinha de porta tem esse nome".

Agradeço e vou até a porta da vizinha.
Bato na porta, ouço movimento dentro do apartamento e aparece uma senhora, meio assustada.

"O nome é o mesmo, mas não sou eu. Meu sobrenome é outro, infelizmente... a cesta é muito bonita".
"Vem comigo, vamos descobrir aonde mora essa vizinha sortuda".

E vamos andando em direção ao corredor central, aonde damos de cara com um diretório com o nome e o número do apartamento de todos os moradores. Claro...

Apartamento 107, bloco C.

"É só virar a esquerda naquele corredor".
"Muito obrigado, tenha um bom dia!".

Viro no corredor e dou de cara com o apartamento.

Bato na porta, espero... nada...
Bato na porta, espero... nada...

Pego o telefone e ligo: este número está programado para não receber ligações

Já ia embora quando vejo a vizinha saindo de casa. Digo que preciso fazer a entrega e pergunto se ela pode ficar com a cesta. Outra vizinha aparece, olha a cesta e diz:

"Eu posso ficar, claro, adoraria... mas faz tempo que não tem ninguém aqui, ela morreu... e não adianta ligar no telefone dela"...

Agradeço a gentileza e vou embora.

No dia seguinte, ligo e cai na caixa postal. Deixo um recado.
E no final do dia recebo uma ligação dizendo que posso passar por lá para fazer a entrega.

Será que vou encontrar a falecida??

Mas a filha dela abre a porta e gentilmente agradece a entrega.
Pede desculpas pelo desencontro.
Mas nada de dar gorjeta...

#21

O bairro não deve ser um lugar indicado para se andar sozinho a noite.
Apesar de tudo, muito limpo e bem cuidado.

Diferentemente de outros lugares, as ruas fazem muitas curvas.

Viro à direita, novamente à direita, ando um pouco e entro à esquerda num cruzamento e assim vou até chegar na rua da entrega.

Assim que entro na rua vejo muitos carros estacionados, uma barraca quadrada daquelas que se usava na praia antigamente (quando existia espaço nas praias...) e uma infinidade de pessoas entrando e saindo da casa.

Fico procurando um lugar pra estacionar, mesmo sabendo que vou ficar o menor tempo possível pra fazer a entrega.

Paro o carro, desço, abro o porta - malas e tiro o arranjo.

Vou andando em direção à casa, todos os homens de camisa branca e gravata preta e todas as mulheres de preto. Fico pensando que o tempo não está quente, o que ajuda bastante nestas ocasiões.

Apesar de tudo, sinto um clima meio que festivo...

Muita gente olha pra mim mas ninguém se mexe pra me ajudar... fico meio sem saber o que fazer.
Até que, finalmente um rapaz vem em minha direção, sorrindo.

"Entrega de flores"
"Muito obrigado"
"Pode, por favor assinar aqui?"
"Claro, sem problema"
"Tenha um bom dia"
"Obrigado. Igualmente".

Viro de costas e saio andando em direção ao carro.
Apesar de ser o único branco num raio de muitos kilometros, me sinto bem, despreocupado.

E vivo mais uma daquelas situações de filme.
Até a minha acompanhante, que ficou dentro do carro meio ressabiada, concordou comigo.

#20

O condomino é de casas boas, localizado bairro com vários campos de golfe.

A portaria liga e pede autorização para me deixar entrar, pede meu documento e libera a cancela.
Consulto meu inseparável GPS, sigo as indicações e chego na casa indicada.

Pelo tipo de arranjo sei que as flores são em função da perda do tal ente querido.
Acontece, todos os dias.

Toco a campainha e aguardo um pouco até ser atendido.

Uma senhora ruiva, de cabelos curtos e óculos de armação redonda abre a porta.
Os olhos estão pequenos, indicando que bem recentemente muito se chorou ...

Ao olhar as flores percebi uma réstia de luz, um traço de sorriso naquele olhar.

Mesmo nestas circunstâncias é bom saber que flores tem o poder mágico de levar alguma alegria para um coração apertado.

"Senhora, sinto muito pela sua perda.
Dentro do possível, tenha um bom dia".

Vou embora com um tímido sorriso!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

#19

O GPS mostra uma praça com vários prédios.
E diz: chegamos...

Já estava escurecendo quando cheguei a acabei errando o lugar, tive que sair, dar a volta num quarteirão imenso e descobrir que era o prédio central.

Hum... pelo tipo das flores e do bichinho de pelúcia me dou conta que estava numa maternidade.
Pergunto pro cidadão do valet de posso deixar o carro por alguns minutos.. "é só uma entrega de flores, coisa rápida".

Entro no saguão com aquele arranjo bonito, as pessoas que estão circulando olham, sorriem e algumas me cumprimentam.

A senhora na recepção esta sozinha, coitada... e o telefone não para de tocar.
Ela me olha com aquela cara de desculpas por não me atender, mas o telefone realmente não para.

Depois de colocar umas 3 ou 4 ligações em espera ela me atende, meio sem graça.
Confere o nome da paciente, olha pras flores e sorri...

Esse sorriso é exatamente o que sempre procuro nas pessoas.

Agradece, pede pra colocar no balcão e vai atender o próximo da fila.
Me viro e dou de cara com um sujeito do tipo fortinho, com uma corrente e uma carteira pendurada no pescoço e uma pistola 9 mm na cintura, bem aparente.

Olho, processo a informação e me dou conta que o cidadão veio atrás da esposa que foi internada pra dar a luz a mais um filho, considerando que ele segurava 3 pelas mãos.

Vejo os olhos de felicidade dele, saio andando em direção ao estacionamento e penso que me senti num filme americano com policiais... uau!!

#18

Toco a campainha uma vez... bato na porta.. toco a campainha de novo e nada acontece...

Pego o telephone e ligo pro numero indicado no canhoto.
Atende um homem, voz grossa...

"Boa tarde, sou da floricultura".
"O que aconteceu com as flores?"
"Nada, senhor. Acabaram de ser entregues na porta da sua casa".
"Obrigado. Ate logo".

Nem deu tempo pra agradecer, o telefone bate no meu ouvido.

No dia seguinte chego pra pegar as flores da entrega do dia, olho o cartao, confiro com as entregas do dia anterior e vejo que vou la novamente, na casa do mal educado...

"Nova compra?"
"Não, ele ligou dizendo que as flores estavam velhas e que ele quer outras..."
"Mas não estavam velhas, são flores frescas..."

La fui eu novamente, pensando no que poderia ter acontecido...

Subindo as escadas vejo o vaso do lado de for a da porta, todo caído...
Fico pensando que não são as flores que entreguei ontem,,,

Toco a campainha e uma senhora abre a porta. Olha pro arranjo e fuzila:
"Isso não são flores que se apresentem..."
"Senhora, desculpe. Aqui estão as flores para serem trocadas. estas novas estão de acordo?"
"Hum... deixa ver... est˜o de acordo".

Assinaturas, carro, floricultura.

"Voce percebeu que mandamos um arranjo com 12 rosas e so voltaram cinco?
Alem disso tinham outras flores que não voltaram..."

Infelizmente tem muita gente com esse tipo de carater em qualquer lugar do planeta...

#17

Claro, era no ultimo andar...

Tinha um cartao de parabens, portanto era um bom momento pra celebrar!

No carro, estacionado meio longe da entrada, tiro as lindas flores e vou andando ate o apartamento.
Toco a campainha e espero.. e espero... e espero...

Ja estava quase desistindo quando ouco passos, bem lentos.

A porta se abre e vejo um senhor com alguma dificuldade nas maos, dedos um pouco torcidos.
Ele sorri, feliz com as flores que estava vendo.

Pede pra eu entrar e colocar as flores em cima da mesa da sala de jantar.
"Claro, senhor". Percebi que ele ja tem mais forca nas maos para carregar um vaso pesado.

"Pronto, senhor. Se incomoda em assinar o canhoto do recebimento?"
"Nao, claro que nao".

Enquanto ele se esforca pra assinar, olho a sala e vejo uma cama hospitalar, um tubo de oxigenio e uma cadeira de rodas. Como o cartao trazia um nome de mulher, entendo que as flores sao pra esposa dele.

Amarradas no cilindro de oxigenio vejo alguns baloes de "feliz aniversario".

Ali da sala ele fala em tom mais alto: "sao lindas flores pra voce, querida!"

Desejo felicidades e fecho a porta atras de mim pensando que nao existe tempo, nao existe idade, nao existe condicao fisica: temos sempre que comemorar e agradecer.

Muito obrigado

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

#16

Estava de saída da floricultura quando o gerente me chama no canto: "olha, presta atenção"..
Fico pensando no que ela ia me dizer...

"Voce vai entregar flores pra Miss 2013, uma mulher muito bonita!"
Será que ele estava exagerando?

Deve ter visto minha cara assustada, um certo ar de incredulidade.
Na dúvida, me colocou na frente do computador e acessou as imagens no google...

Lá estava ela, sorridente, com aqueles dentes brancos...
Realmente uma moça bonita, lá do alto dos seus 20 anos rs rs

Ponho o endereço no GPS e saio em direção ao desconhecido, mergulhado nos meus pensamentos.
Já quase chegando a menina que mora dentro do aparelho me chama à realidade e me manda virar à direita em 100, 75, 50 metros...

Uma rua longa, muitas casas e árvores. nada de muros. Alguns portões...

Claro, advinhou... era a última casa da rua...

Toco a campainha e espero um pouco.

"Pois não?"
"Entrega de flores..."

Ouço um sorriso.. "Claro, vou abrir o portão" diz a voz de Miss...
"Mas acabei de sair do banho..."

E o coração acabou de sair pela boca rs rs

"Voce de incomoda em entrar?"
"Claro que não..."
"Então por favor deixe na porta da frente pra mim. Obrigada!"

E a gorjeta?
Fica pra próxima, quem sabe...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

#15

Dia chuvoso, muita agua nas ruas e um friozinho diferente, fora do usual.

Algumas poucas pessoas na rua, muitos carros circulando.

Vejo o roteiro das entregas e já identifico um condomínio com tantos prédios que tem 2 linhas de ônibus só pra servir os moradores, todos meninos e meninas com mais de 65, com certeza.

Aliás, dentro deste condomínio sempre passo pela maior sinagoga que já vi na vida.
A sensação é de que construíram um morro pra ela ficar mais alta, imponente (até porque também nunca vi lugar tão plano...).

Entro na fila dos "não moradores" e fico esperando a minha vez de ser identificado.
Um carro anda, outro anda, a fila anda e chega a minha vez.

E a mocinha, com um sorriso sincero:
"entrega de flores? já sei... e olha que flores bonitas! pode ir, tenha um bom dia".

Quase sem ação, feliz e contente, acelero o carro e vou embora.
Feliz!

#14

"Bom dia, senhora... uma entrega de flores. E meus parabéns!"

"Mas foi ontem..."

"Eu sei, senhora. estive aqui mas a senhora não estava em casa para receber as flores"

"Mas não podia ter deixado na porta?"

"Infelizmente, senhora, não tinha ninguém pra abrir o portão do condomínio"
"Ninguém pra ajudar?"

"Não senhora. esperei por um tempo mas como ninguém passava e eu tinha outras entregas pra fazer, acabei indo embora. Mas voltei hoje, com as flores e os votos de um feliz aniversário!"

"Mas foi ontem..."

"Eu sei, um bom dia pra senhora".

Francamente... tem gente que não consegue enxergar a beleza e a alegria que vem junto com as flores.

Nem ontem, nem hoje, tampouco amanhã...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

#13

véspera do Natal, passo em frente a um shopping center.

(pausa pra contar um "causo": meu amigo Rodrigo e eu fomos sócios numa pequena agencia de propaganda. Ele contava que trabalhou numa agencia e em um dado momento ganhou de presente uma estagiária. Uma das contas que eles atendiam era de um shopping. Até que a tal estagiária, querendo entrar na conversa, pergunta: "shopping tem 1 P ou 2 Pes?"... "depende de quantos andares ele tem... se tiver 1 andar e com 1 P só..."

Um certo transito e o sinal fechou, me colocando imediatamente atrás de um Mustang vermelho, conversível. Ocupado por 2 jovens de seus 20 e poucos anos, suponho.

Os ocupantes do veículo acompanham a música, bem alta, dançando, coreografando e cantando.
Os sinais costumam demorar bastante, o que me obriga a acompanhar a performance da dupla, bastante desinibida...

Como a temperatura está agradável e já fiz todas as entregas os vidros do carro estão abertos.
De repente, lá no fundo ouço um ronco de reduzida de marcha, na sequencia outra reduzida me marcha.

Ao lado dos coreógrafos para uma Lamborghini preta, também conversível.

Fazia tempo que não via seres humanos murcharem com tamanha rapidez e desenvoltura...

sábado, 2 de janeiro de 2016

#12

Entro na rua a direita e me deparo com uma linda praça...

Vejo muitas lojas e restaurantes na rua e entendo que os predios construidos em cima são residenciais.
vou devagar, procurando o numero ate encontrara

Deixo o carro na faixa dupla e desço em direção à porta, imaginando que naquele predio luxuoso encontrarei um porteiro.. engano meu..

Olho pelo vidro e vejo uma moradora pegando a correspondencia na caixa do correio
bato no vidro e faço sinal pra ela abrir a porta

Meio desconfiada, ela abre a porta e explico que tenho uma entrega de flores
"sera que a senhora se incomoda em segurar a porta pra eu pegar as flores no carro?, por favor"

Ainda ressabiada ela pergunta o numero do apartamento e depois de localizer a caixa de correio correspondente ela aceita colaborar

Saio correndo pra pegar as flores no carro e vejo que a pessoa que estava na vaga saiu, deixando a vaga disponivel. manobro o carro rapidamente, pego o arranjo e saio correndo

Agradeço a gentileza, ela aperta o botão do elevador, segura a porta e aperta o botão do 4a andar (o mesmo andar dela...)

Desço e ela me aponta o lado do apartamento que eu procure. agradeço novamente.
toco a campainha, espero... espero.. e nada

Ligo no telefone indicado no papel e,claro, caixa postal
deixo recado e saio correndo de volta pro carro

Que ficou estacionado sem cartão e ligado...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

#11

Estou na loja esperando pra sair pras próximas entregas quando entra um cliente:
"quero mandar um arranjo de flores bem bonito pra minha esposa", diz ele, acrescentando:
"quanto custa?""

A florista olha nos olhos dele e fuzila, assim à queima roupa: "qual o tamanho da sua culpa?""
No que o gerente emenda, sem deixar a bola cair: "os arranjos pra livrar voce da cadeia custam a partir de 200.."

"não, não tenho culpa.., só quero mandar flores e queria um arranjo 'uau' pra mandar pra ela""

"podemos começar com 75, mas acho que 100 é melhor""

"combinado! por favor anote o numero do meu cartão de crédito e vamos fazer isso todas as 2as feiras pelas próximas 6 semanas"

Culpado?! Não, absolutamente, de jeito nenhum...